quinta-feira, 29 de julho de 2010

"Um Sonho Possível"

“Um Sonho Possível” (The Blind Side, 2009), que inicialmente receberia o título de “O Lado Cego” (sua tradução literal), começa explicando um termo característico do futebol americano que servirá de premissa para toda a sequência da história. Narrada pela protagonista da trama Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock), a primeira cena do filme mostra uma sucessão de imagens de futebol americano aliada ao discurso de Leigh Anne, que tem o objetivo de explicar como o termo “lado cego” se aplica ao esporte em questão. Ela diz que quando um quarterback destro (uma das posições do futebol americano) se prepara para passar a bola, seu lado esquerdo deve ser protegido por um companheiro de equipe. A função deste outro jogador seria bloquear o adversário para que o quarterback pudesse fazer a jogada sem que ele fosse surpreendido pelo oponente através da região que está fora de seu campo de visão. Este é o ponto de partida para a compreensão de toda história. É a metáfora que permeará “Um Sonho Possível” do início ao fim. Baseado em um livro de Michael Lewis, o longa conta a história verídica de Michael Oher (Quinton Aaron), que hoje é um jogador famoso que atua pelos Baltimore Ravens. Oher é um garoto negro, pobre e grande demais a ponto de parecer esquisito. Conhecido como “Big Mike”, ele não conhece o pai e foi abandonado por sua mãe, viciada em drogas, quando criança. O jovem passou a vida pulando de um lar adotivo para outro, sem nunca estabelecer uma moradia fixa. Até o momento em que “Big Mike” é levado para uma escola frequentada pela classe média e alta da região. De imediato todos que trabalham na escola se mostram pouco receptivos à admissão do garoto na instituição. Principalmente pelas suas notas escolares extremamente baixas. Porém, com muito esforço, o técnico Burt Cotton (Ray McKinnon), convence a todos que o enorme potencial esportivo de “Big Mike” já seria um grande motivo para sua admissão. Uma vez aceito, o garoto passa a experimentar um mundo que nunca foi dele. Em uma noite fria e chuvosa, “Big Mike” é encontrado na estrada por Leigh Anne e sua família. Como Oher não tinha para onde ir, a moça acaba o levando para passar a noite em sua casa. A visão otimista do diretor e roteirista John Lee Hancock pode parecer exagerada em alguns momentos de “Um Sonho Possível”, mas o cineasta deixa claro em determinados momentos do filme que o altruísmo, neste caso representado pela personagem de Sandra Bullock, é uma iniciativa muito complicada à medida que tomamos conhecimento dos perigos do mundo atual e toda a maldade que um ser humano pode fazer. Até que ponto podemos confiar em um completo desconhecido? A cena em que Leigh Anne conversa na cama com seu marido Sean (Tim McGraw) logo depois de levarem “Big Mike” para casa ilustra bem a situação. Ela se pergunta se tomou a atitude correta enquanto ele responde que irão descobrir ao acordarem de manhã e darem falta de algum objeto da casa ou não. É uma questão interessante já que muitas pessoas ao nosso redor também se sentem amedrontadas ou receosas em ajudar o próximo visto que a maldade e a crueldade estão por todos os lugares. Para sorte de Leigh Anne, ela não corria esse risco com Oher. E ao acordar na manhã seguinte, por exemplo, “Big Mike”, já havia arrumado sua cama no sofá e estava quase no portão de saída da casa quando foi chamado por Leigh Anne, aos berros e passos corridos. A partir daí, Oher e sua tutora passam a construir uma bonita e deliciosa parceria de amizade, confiança e afeto. É muito gostoso perceber como, aos poucos, um vai transformando o universo do outro. A química entre Sandra Bullock e Quinton Aaron é incrível. A atuação de Bullock é um show à parte que foi recompensado com o Oscar de Melhor Atriz. Sua Leigh Anne é durona e doce na dosagem perfeita, nada caricatural. E com um leve toque de humor que a deixa irresistível. Previamente, o espectador pode pensar que Leigh Anne mudou mais a vida de Michael Oher do que o contrário. Mas como a própria Leigh Anne diz no filme, foi ela quem realmente foi transformada. “Big Mike” conquista o carinho de todos na família, não só dela e do marido, mas como dos dois filhos, o caçula SJ (Jae Head) e sua irmã mais velha Collins (Lily Collins). Com muito esforço e apoio da sua nova família, “Big Mike” vai progredindo gradativamente nos estudos e no futebol americano. O empenho de Oher faz com que apareça a oportunidade dele conseguir uma bolsa de estudos em algumas universidades dos Estados Unidos. E seu futuro promissor mobiliza toda a família, que inclusive contrata uma professora particular, Srta. Sue (Kathy Bates), para tornar as notas de Oher boas o suficiente para ele entrar na faculdade. “Um Sonho Possível” também não deixa de ser uma crítica ao conservadorismo norte-americano, como quando o casal Tuohy comenta que nunca haviam visto antes um cidadão democrata depois de contratarem a personagem de Kathy Bates para dar aulas a “Big Mike”. John Lee Hancock emociona de forma discreta, evitando qualquer pieguice. Sua direção, seu texto e suas cenas são muito bem pensados e montados. E seu maior mérito é ter dado um enfoque que de certa forma é inovador. Muitos filmes de caráter assistencial contam uma narrativa descrita pela ótica de quem é beneficiado pela ação, não sob o ponto de vista de quem executa a ação. Às vezes é preciso olhar um pouco o outro lado da história. Talvez sirva de exemplo para nós que acabamos mergulhando em nossa própria acomodação. “Um Sonho Possível” vai, no mínimo, te fazer repensar sobre suas ações e seus preconceitos.


Por Gabriel Von Borell





Um Sonho Possível
(The Blind Side, Estados Unidos, 2009)
Direção: John Lee Hancock Roteiro: John Lee Hancock Elenco: Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron, Kathy Bates
. Drama. 128 min.

3 comentários:

  1. Oi Gabriel

    Gosto muito do trabalho da Sandra Bullock e esse fime já está na minha lista para ver tenho certeza que é tipo de filme que eu vou gostar pela tua postagem.
    Bjs e uma boa noite

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  2. Oi Gabriel, tudo bem?
    Esse filme é ótimo mesmo, sem comentários né?
    Uma prova de amor sou suspeito pra falar, rs
    Eu pensei o seguinte sobre os cursos, fazer psicologia e a pós faço em comunicação, um colega seu de profissão me deu essa idéia, rs
    Abraços menino

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  3. muito bom seu texto, como sempre! também falei desse filme, uma obra-prima e uma lição de vida.

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