
Em “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (
Big Fish, 2003), Tim Burton conta uma história fantástica cheia de encanto e magia que envolve o espectador. E dentro deste universo, o diretor dispõe de um espaço ilimitado para trabalhar toda a sua criatividade e imaginação. O clima do longa lembra a obra-prima “Edward: Mãos de Tesoura” (Edward Scissorhands, 1990), com sua estética sombria e colorida ao mesmo tempo. Não à toa a música tema do filme estrelado por Johnny Depp foi utilizada no trailler de “Peixe Grande”. O imaginário é o carro-chefe da história e conduz a trama até seu final. A saga de Edward Bloom, personagem principal do filme, é bonita e inspiradora. Burton consegue emocionar mesmo com seu estilo, no mínimo, pouco convencional. “Peixe Grande” é sentimental sem ser piegas, e, acima de tudo, uma fábula deliciosa e divertida. Cativante em muitos momentos. As situações bizarras apresentadas por Burton não caem no ridículo justamente por causa do tom exagerado que o diretor imprime ao seu filme, prova cabal do talento de Tim Burton. A escalação de Ewan McGregor e Albert Finney para interpretar Edward Bloom, em sua fase jovem e idosa respectivamente, foi muito feliz devido à semelhança entre os dois. Assim como Burtoin acertou na escolha de Alison Lohman e Jessica Lange para viver sua amada Sandra. As duas atrizes possuem traços bem parecidos. Estes pontos ajudam ainda mais a dar autenticidade à obra burtiana. A metáfora presente no título do filme reside na magnitude dos feitos de seu protagonista. Um peixe grande não pode ser posto num aquário pequeno demais. Ele precisa de espaço, de sair para explorar o mundo. Se guardado num aquário pequeno o peixe permanece pequeno, mas quando não existem barreiras ele cresce. Edward Bloom é como o peixe, alguém que precisa de mobilidade. Existe uma necessidade inata de conhecer as coisas, de sair para o mundo. Conhecemos a vida deste contador de histórias através de flashbacks. Edward Bloom (Albert Finney) tem o dom de cativar as pessoas com suas histórias criativas e mágicas, que mais parecem terem sido retiradas de um livro infantil. De tão surreais, os seus causos levantam suspeitas quanto à veracidade dos fatos. Mas a ninguém isto parece incomodar, e assim Edward Bloom conquista a simpatia de todos por onde passa. Porém, toda esta imaginação cria mágoas profundas numa das pessoas mais importantes de sua vida: seu filho Will (Billy Crudup). A objetividade jornalística de Will o impede de aceitar as histórias do pai, que jura de pés juntos que tudo realmente aconteceu. E conforme o tempo passa mais vai crescendo um abismo na relação dos dois. Will não entende o comportamento de Edward e alega que é impossível conhecer verdadeiramente seu pai diante de tanta fantasia. O jovem sente como se tivesse sido enganado durante sua vida inteira. Porém, quando Edward fica muito doente surge a oportunidade de apaziguar este relacionamento conturbado de pai e filho. A mãe de Will, Sandra (Jessica Lange), liga para o filho para avisar que Edward está no hospital. E então Will e sua esposa grávida, Josephine (Marion Cotillard), partem para a casa dos pais dele. Ao longo da projeção de “Peixe Grande” é contada todas as situações fabulosas vividas por um Edward jovem (Ewan McGregor). Aliás, Ewan McGregor encontra o tom certo para o personagem e assim as histórias incríveis idealizadas por Burton funcionam na tela. Ewan nos apresenta o universo onírico engendrado por Edward, com direito a pântanos, bruxarias, circos, assaltos, guerras etc. De volta ao convívio com seu pai, Will aos poucos começa a perceber que o julgara errado. Talvez suas histórias realmente tenham um fundo de verdade e representem a identidade de Edward. Agora com um olhar mais atento para o pai, Will é transformado pela aproximação com ele. A ponto de ser o condutor do destino final desta fábula, criando seu próprio desfecho fantástico para a morte de Edward. Assim como teria sido toda a trajetória de seu pai. Edward Bloom procurava levar a vida de maneira mais divertida e agradável. O cotidiano muitas vezes é sem graça e podemos encontrar a magia que está ao redor de nossa existência, basta querer enxergar.
Por Gabriel Von Borell
Ficha Técnica
Título Original: Big Fish
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 125 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2003
Site Oficial: www.sonypictures.com/movies/bigfish/index.html
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / The Zanuck Company / Jinks/Cohen Company
Distribuição: Columbia Pictures / Sony Pictures Entertainment
Direção: Tim Burton
Roteiro: John August, baseado em livro de Daniel Wallace
Produção: Bruce Cohen e Dan Jinks
Música: Danny Elfman
Fotografia: Philippe Rousselot
Desenho de Produção: Dennis Gassner
Direção de Arte: Roy Barnes, Robert Fechtman, Jack Johnston e Richard L. Johnston
Figurino: Colleen Atwood
Edição: Chis Lebenzon
Efeitos Especiais: Sony Pictures Imageworks / Stan Winston Studio / The Moving Picture Company
Elenco
Albert Finney (Ed Bloom)
Ewan McGregor (Ed Bloom - jovem)
Billy Crudup (Will Bloom)
Jessica Lange (Sandra Bloom)
Alison Lohman (Sandra Bloom - jovem)
Helena Bonham Carter (Jenny / Bruxa)
Robert Guillaume (Dr. Bennett)
Marion Cotillard (Josephine)
Matthew McGrory (Karl)
David Denman (Don Price - 18 aos 22 anos)
Missi Pyle (Mildred)
Loudon Wainwright III (Beamen)
Ada Tai (Ping)
Arlene Tai (Jing)
Steve Buscemi (Norther Winslow)
Danny DeVito (Amos Calloway)
Deep Roy (Sr. Soggybottom)
Perry Walston (Ed Bloom - 10 anos)
Hailey Anne Nelson (Jenny - 8 anos)
Grayson Stone (Will Bloom - 6 aos 8 anos)